quarta-feira, 27 de maio de 2015

BIMESTRE: MISTÉRIO OU REALIDADE?

BIMESTRE - por Jean White

 Olhos azuis, com tons esverdeados, cabelo castanho-claro como cajus salgados e pintas predominantes no braço esquerdo; bochechas com covas grandes e pele rosada, como se tivessem um toque de base.
 Gostava de Júlia, que tinha cabelos longos, busto natural de uma linda moça, motivo para ele malhar todos os sábados e domingos; para ter um muque de puberdade, que já fazia com que apresentasse espinhas nas costas, mesmo não comendo chocolate.
Tobias de Freitas Amaral, mais conhecido como Tô na escola e na Vila dos Monges, bairro onde morava; Era depressivo e diabético e, por causa disso, tomava remédios diários dispostos numa caixa de plástico; A diabetes foi herdada de seu avô, que morreu de infarto do miocárdio em 1997, famosa década de noventa.
 Sempre quando perguntam, ele diz que o livro que o mais ajudou até hoje foi "Aprendendo Inteligência" - Volume 1 dos 3 que Pierluigi Piazzi, que já fora professor no cursinho de grandes universidades. Com as dicas de Pier, ele agora sabe como tirar 10 em todas as provas. Joga bola, vôlei e futsal, mas seu preferido é basquete, principalmente por seus ídolos, Michael JordanStephen Curry e Lebron James. Seus pais, Adriel, cabelo grisalho, dentes amarelados como castanhas, cabelo escuro, mas tão escuro, que chega a ser azul; alcoólatra assumido e freguês assíduo do senhor Zé, dono do bar, logo na esquina da calçada de caminhada, a principal da cidade; e Maria, mulher batalhadora, que luta todos os dias para pagar a escola de Tobias. Ambos com 52 anos e, seus genitores, um falecido, Júlio, e a outra de oitenta e quatro anos, Tereza.
 Escola Formigópolis, de excelentíssima qualidade. Os alunos, assim como Tô, utilizavam roupas azuis e amarelas com listras marrons para lembrar o nome da escola. Era grande, três andares, elevadores, anfiteatros, quadra de futsal, basquete e futebol, salas de ginástica, xadrez e damas; definitivamente uma escola completa.
 Tanto tempo de explicação que o céu escureceu. Após realizar suas atividades, Tobias foi dormir, pois estava cansado e precisava descansar para a festa junina, que seria no dia seguinte; quando se deitou teve más impressões sobre o que aconteceria... 
 Dormiu até três da tarde e começou a se ajeitar às seis. Pintou um estiloso bigode, além de sinais de carvão para simular o árduo trabalho na roça, que ele não tinha noção. Vestiu uma roupa vermelha e branca com listras pretas e uma calça jeans com cinto marrom, com detalhes de um metal que brilhava quando entrava em contato com o Sol, que começava a baixar.
 Entardeceu, era hora dele partir para o pátio da escola que estava com bandeirolas de vários tipos de cores, mesclava desde o vermelho e laranja à índigo e violeta. Fogueiras com labaredas ofuscantes no escuro, maçãs do amor, paçoca, bolo de milho e quentão para todo lado. Porém, uma coisa o despertava curiosidade...
 Um homem atrás de uma fogueira com labaredas baixas; era alto, esguio, de braços longos e casaco preto, jeans tintado com azul escuro e um Vans neutro. O homem aparentava ser Jorge da Cunha, aluno da sétima série que já fumava narguilé e cigarro com quinze anos; sim,ele era repetente. Seria uma mensagem relacionada com a fumaça da fogueira e do fumo ou apenas um mero acaso? Tudo isso passava pela mente de Tobias.
 Como a festa seria para anunciar as férias de duas quinzenas de julho, Tô resolveu não esquentar a cabeça, mas a linda donzela vestida de vaqueira com um chicote e botas de seu avô, Júlia, tirou-lhe completamente o rapaz da cabeça. Ficou envergonhado, no entanto, deu um "oi" surdo, certeza que estava tímido. A bochecha de Tobias tornou-se mais rosada e antes que ele piscasse, ela deu um "oi" e um aceno com as mãos, pois estava apressada para a sua dança, que iria começar. Ela era bem mais simples que Tobias, mas isso não desmerecia a menina, pois ela era muito linda! O que demonstra bom gosto do garoto.
 Assuntos e pensamentos completamente mudados... Ele estava tão vidrado nela que, ao começar a dança de sua classe,nem mesmo percebeu estar atrasado e, pelo mesmo motivo, teve de dançar com um menino que não tinha par. Nessa abestação, por um deslize numa folha que a faxineira não recolheu, Tobias foi ao chão e passou um grande vexame. Mas... quando olhou para cima, um pouco desacordado, viu uma pessoa encapuzada  levantar-lhe e dizer-lhe com voz rouca e grossa, nua e crua:
 -Calma, ainda tem mais escorregões nessa história!
 Que história Tobias estaria envolvido? Seria essa que White estivera escrevendo às nove e dois da noite? Ele, ainda confuso pela queda, disse:
 -Opa! Não me deseje azar não, camarada! -sempre com seu jeito egocêntrico e simpático de ser-.
 -Mas... como desejaria? Não desejo mal a ninguém, ainda mais para quem não conheço -a frase foi soada num tom sarcástico-.
 Tobias não interpretou mal a fala do rapaz, nem lembrara de que vira ele atrás de uma fogueira.
 Enfim, a vida passa, porque até uva passa...
 Chegaram as férias e Tobias ficou preocupado com os sinais que interpretara três dias antes. Seu pai, que estava no Bar do Zé, chamou-o enquanto ele treinava pedaladas na rua. Disse-lhe que aquilo não havia nada para se preocupar, pois era só uma coincidência.
 Sua mãe lhe deu alertas, falou tudo ao contrário de seu pai; dizendo que por estar embriagado não pensara direito na hora de responder Tobias. O garoto não deu ouvidos à sua mãe e foi na onda de Adriel.
 Convencido da opinião do pai, seguiu a vida tranquilamente... Até dia 9 de julho, quando o mesmo chegou em casa gritando com uma latinha de Skol na mão. Foi logo à cozinha... 
Um barulho de vidro quebrado acorda Tobias e Maria, pois ele havia quebrado a janela com uma frigideira antiaderente, estilo Woki; realmente, Skol desce redondo. Pegou-o pelo braço, grosso, devido à horas de academia e levou-o para a casa de sua mãe, que Tô detestava; principalmente porque ela fazia uma abobrinha de forno muito salgada e, mesmo com reclamações,ela não mudava a receita.
 Tobias perguntou a seu pai o porquê de aquilo tudo, mas o nível de manguaça era grande...
 Foi dormir, pois sabia que era o melhor a se fazer. Acordou no meio da noite com os olhos ardendo, ele odiava quando isso acontecia. Mas aproveitou que seu pai estava num ronco pesado e foi direto telefonar para casa. Caixa postal, certamente, sua mãe estaria procurando por ele; o que deu resultado. Minutos depois, a campainha toca, o pai do menino acorda e ordena que ele vá para a moto. Abre o portão, sai e fecha com rapidez. Mas, como tudo o que vai volta e, se beber não dirija uma moto, acontece um outro escorregão na história...
 Bem num fio de óleo deixado pelo caminhão que havia passado minutos antes. Como em todos acidentes existem feridos, nesse também teve. Adriel sofreu fraturas no joelho, ombro e peito. Mas, depois da doação de sangue B+ (fácil de se achar), o tratamento foi realizado, porém, como resultado, sequelas eternas. 
 Para Tobias não foi bem assim... Sofreu graves fraturas nas costas, virilha e pernas, se sobrevivesse, ficaria paraplégico. Mas, infelizmente ou felizmente, Tobias não suportou os cortes e ferimentos gravíssimos. O querido Tô veio à óbito dia 12 de julho, um dia com número completo, às onze e trinta e nova da manhã.
 Ele deixara à mãe a lembrança do que foi um filho honesto, estudioso e bem-humorado, aquele que sempre alegrava as macarronadas de domingo, contador de piadas achadas na internet e classificado, definitivamente, como uma boa pessoa.
 Para o pai, um menino que contava com ele para o que der e vier, ir e vir, ser ou não ser...
 Muitas homenagens e flores mandadas por amigos e amigas do colégio, internet e de toda a cidade. Ele era bem conhecido como um bom garoto.
 Aquele homem teria mesmo relação com tudo?
 Talvez não saibamos, mas,enfim...

 "Como tudo passa, 
Tobias passou, para um lugar melhor."


Vitório Oliveira

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